Histórias como as das gatinhas Brenda e Denise mostram que escuta, paciência e respeito ao tempo do animal fazem toda a diferença
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Gatinha Brenda foi amor à primeira vista. Foto: Divulgação |
A adoção da gatinha Brenda foi amor à primeira vista. Jaqueline Rufino, cientista de dados, buscava uma gata preta e adulta quando conheceu a ONG Confraria dos Miados e Latidos, que descrevia a gatinha como “tímida e medrosa”. Experiente com felinos, já no 15º gato, Jaqueline sabia o que esperar. “Se ele (o gato) é tímido, ele é tímido e ponto final”. Mas a tutora se surpreendeu. No primeiro dia que fomos para casa, em vez de se esconder, explorou o novo quarto, aprendeu a abrir a porta e tomou conta da casa: “Introdução? Não teve, ela tomou conta da casa como se tivesse nascido aqui”.
Apesar do início destemido, a socialização exigiu respeito e paciência. “Foi complicado andar pela casa com ela, já que ela realmente é medrosa e tem uma grande dificuldade em dividir o espaço com a gente, então eu dei espaço pra ela. Até hoje ela foge quando a gente tá atravessando o corredor e não fica no colo mais que 30 segundos, mas eu escolhi esperar ela. Seguimos todos os conselhos da ONG e demos todos os petiscos que ela quis”, conta. Hoje, mesmo sem gostar de colo, Brenda mia pedindo carinho, “amassa pãozinho” nas cobertas e já brinca com os outros gatos da casa. “Eu diria que o maior conselho é amor, carinho e respeito. Respeitar o espaço do gatinho e esperar o tempo deles é o melhor conselho, mas também recomendo churu e petiscos!”.
Um outro exemplo é a gatinha Denise. Chegou ao abrigo da ONG extremamente arisca e se escondia ao menor sinal de aproximação. Com o trabalho de socialização, o apoio de uma veterinária comportamentalista e o respeito ao seu ritmo, ela passou a aceitar carinhos na cabeça — ainda com reservas, mas demonstrando bem-estar e segurança. A expectativa é que, em breve, ela encontre um lar que compreenda e acolha sua personalidade.
Segundo a Confraria dos Miados e Latidos, o trabalho de socialização aumenta significativamente as chances de adoção. Por isso, o acolhimento na ONG inclui cuidados veterinários e suporte emocional. "Entendemos que um animal saudável é aquele que vive bem no corpo e na mente. E muitos dos nossos gatinhos hoje carinhosos e confiantes já foram, um dia, tímidos e inseguros”, afirma Laís Piccolo, coordenadora de Adoções da ONG Confraria dos Miados e Latidos.
Processo de socialização pode levar mais de 3 meses
Nem todo gato resgatado está pronto para o colo. Muitos chegam aos abrigos assustados, com sinais de traumas e precisam de um processo cuidadoso e contínuo de socialização para voltarem a confiar em humanos. Esse histórico pode gerar dificuldades para se socializar mesmo em ambientes seguros. Na ONG Confraria dos Miados e Latidos, que hoje acolhe mais de 50 gatos tímidos ou temperamentais, esse trabalho vai além do cuidado físico, envolve escuta, paciência e um olhar atento para a linguagem corporal dos felinos.
Segundo a médica veterinária e especialista em comportamento felino que atua voluntariamente na socialização dos gatos da ONG, Débora Paulino, cada gato possui particularidades genéticas e cognitivas que influenciam suas respostas ao novo ambiente. “Assim como uma pessoa pode se ‘acostumar’ com algo que não faz bem à saúde emocional, os gatos também. Importante dizer que a capacidade para aprender e se acostumar existe, assim como a mesma pode ser direcionada para ‘desaprender’ e desacostumar”. Para ajudá-los no processo de socialização, Débora destaca sinais que indicam avanço na confiança, como expressão corporal relaxada, aceitação de comida na presença do tutor, uso da caixa de areia, brincadeiras e aproximações sutis com interesse.
O processo de socialização deve respeitar o tempo de cada animal, podendo levar até três meses (mas não é regra e cada animal tem seu tempo) para que ele se sinta parte do novo lar. “A socialização é estruturada em cinco pilares e não em cinco minutos! A evolução para cada pilar depende de vários fatores, alguns do gato, outros do ser humano e outros do ambiente”, afirma a veterinária, listando fatores como preparação do ambiente, troca olfativa, brincadeiras com troca de olhares, contato corporal supervisionado e rodízio dos espaços.
Ao longo do processo de socialização, Débora destaca alguns sinais importantes, como:
- Piscar lentamente: indica confiança e tranquilidade.
- Postura encolhida e orelhas para trás: sinal de tensão ou medo.
- Lambidas frequentes no focinho: costumam indicar desconforto ou indecisão.
- Rabo esticado e leve tremor na ponta: geralmente sinal de curiosidade.
- Fugir ou se esconder ao ouvir passos: medo ainda presente.
A especialista reforça que socializar um gato facilita sua adaptação e contribui para adoções mais responsáveis. “A socialização nos mostra o potencial e o perfil de comportamento daquele gatinho. O gato pode ficar arisco novamente se ele for para uma casa que não está sendo um verdadeiro lar para ele, pois o lar caracteriza o espaço de acolhimento, segurança, compreensão e livre de medo. Então o ambiente faz a total diferença para o comportamento deles gato, se ele se sente vulnerável e com medo, ele vai ter respostas comportamentais proporcionais a isso, como se tornar agressivo, podendo urinar fora do lugar, ficar o dia todo escondido, não comer entre outras mudanças comportamentais”. Mais informações em www.miadoselatidos.org.br. @cmiadoselatidos
Sobre a Confraria dos Miados e Latidos
A ONG atua com excelência e profissionalismo na proteção animal desde 2007, tendo viabilizado nesse período a adoção responsável de mais de 5 mil animais e a castração de mais de 16 mil. Seu trabalho é focado na castração, como um dos pilares fundamentais da Saúde Única (saúde animal-humana-ambiental), no resgate e adoção responsável e na produção de conteúdo educativo para o público em geral.
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